Diferença entre alergia tardia e alergia imediata

Diferença entre alergia tardia e alergia imediata

Muitas pessoas têm dúvida sobre qual a diferença entre alergia tardia e alergia imediata. E elas realmente são questões bem diferentes.

Quando se fala em alergia geralmente se pensa em espirros, coceiras, pele vermelha, garganta trancada ou mesmo choque anafilático. Mas esses sintomas são bastante característico de um tipo de alergia, que seria a alergia imediata (tecnicamente conhecida como aquela mediada por IgE).

Neste tipo de reação os sintomas aparecem de forma imediata e podem durar até 8 horas, e o contato com a substância alérgica gera reações agudas que podem até levar à morte, dependendo da dose de contato e do nível de reação.

Mas, há um outro tipo de alergia, que é a alergia tardia, ou também conhecida como hipersensibilidade alimentar.

Neste tipo de alergia nem sempre há reações imediatas, podendo acontecer até 72h após o contato, o que dificulta bastante a identificação do agente causador.

Este tipo de alergia gera reações imunológicas e e inflamatórias no corpo todo, e pode se manifestar das mais diferentes formas: enxaqueca, dificuldade de engravidar, depressão, doenças auto imunes, dificuldade de perder ou ganhar peso, inchaço, coceiras no ouvido ou olhos, produção de muco excessiva, alterações de humor, cansaço, intestino preso dentre outros.

Vamos entender melhor como acontece a alergia tardia

Para entender a alergia alimentar tardia é preciso entender o conceito de tolerância oral.

Todos os alimentos, na sua pura natureza, são uma substância estranha para o nosso corpo. Se injetarmos qualquer tipo de alimento diretamente na nossa corrente sanguínea teremos um choque anafilático. Por isso o processo de digestão, transformação e absorção dos alimentos é tão importante.

Mas, ainda assim, sempre há uma pequena passagem de moléculas de alimentos pra dentro do nosso corpo (cerca de 2%). Essas moléculas, seriam totalmente quebradas e acabam entrando num tamanho maior do que deveria (chamamos de macromoléculas). Por isso, temos a tal tolerância oral, ou seja, nosso corpo aceita pequenas quantidades dessas macromoléculas estranhas sem termos problemas.

Mas, se considerarmos que ao longo da vida ingerimos cerca de 25 toneladas de alimentos (já tinha pensar nisso?!), e que 2% entram no nosso corpo, teremos contato direto com cerca de 500kg de macromoléculas ao longo de nossa vida.

Vamos considerar que toda vez que esse alimentos entram no nosso corpo, eles vão enchendo um copo, específico para aquele alimento. Quando consumimos muito de um mesmo alimento por longo tempo, aquele copo se enche demais, até que ele transborda.

É nesse momento, onde a tolerância oral é extrapolada e se inicia uma hipersensibilidade alimentar, ou seja, o corpo passa a reagir àquelas moléculas, pois a quantidade passou do limite.

Alguns alimentos tem maior tendência em disparar essa sensibilidade por conterem substâncias maiores e mais difíceis de serem quebradas. Por isso, alimentos proteicos (leite, glúten, ovo, amendoim, frutos do mar) tendem a dar mais reações de hipersensiblidades do que outros alimentos (como o arroz por exemplo, um dos mais hipoalergênicos).

O contexto da hipersensibilidade depende muito da capacidade do intestino em filtrar essas macromoléculas. Por isso, um intestino permeável (tão comum atualmente) terá maiores chances de hipersensibilidades alimentares.

Outros fatores favoráveis são o estado nutricional – a deficiência de zinco por exemplo, pode facilitar as hipersensibilidades-, a capacidade digestiva, a forma de processamento dos alimentos, a presença de disbiose, o tempo de amamentação e a forma de introdução alimentar.

Crianças que não são amamentadas com leite materno ou tem um curto tempo de amamentação tendem a ter uma menor proteção imunológica e intestinal e por isso podem ter maior propensão à hipersensibilidades alimentares.

Da mesma forma, crianças que são alimentadas antes dos 6 meses ou que tem o processo de introdução alimentar que não respeita a maturidade de seu intestino também tem maior tendência à redução na tolerância oral.

Ao mesmo tempo, a exclusão total de alimentos com maior potencial alergênicos (glúten, amendoim, ovos) da alimentação de crianças também pode favorecer a menor tolerância à esses alimentos. É o que chamamos de janelas de oportunidade para a introdução alimentar.

Como identificar a alergia tardia?

A possibilidade de alergia tardia pode ser identificada pelo contexto de sinais de sintomas e o que chamamos de rastreamento metabólico, que pode ser realizado por um nutricionista funcional.

A segunda etapa é identificar os alimentos que mais disparam reações (geralmente os consumidos com maior frequência ou aqueles que a pessoa tem maior dificuldade de largar).

Alguns sinais específicos também podem direcionam à alimentos mais específicos, como problema de vias respiratórias e leite, ou problemas de pele e ovos, mas isso não é uma regra para todos.

A terceira etapa é a confirmação dos alimentos alergênicos. Isso pode ser feito pela dieta de eliminação e desafio ou por testes de IgG alimentar.

Eu posso deixar de ter alergia tardia à um alimento?

Diferente da alergia imediata, que é irreversível, a alergia tardia pode ser amenizada ou desensibliizada.

Como já falamos, a hipersensiblidade é como um copo cheio. Mas, a partir do momento que se esvazia esse copo e se melhora a capacidade do corpo em filtrar macromoléculas, as reações de alergia tardia também serão amenizadas, permitindo a reintrodução do alimento. É claro que para manter um estado saudável, a reintrodução alimentar deve considerar a rotação de alimentos e a adequação de quantidades, ou seja, não voltar a exagerar demais naqueles mesmos alimentos, senão o copo se enche novamente.

Durante este período, também é importante fazer um acompanhamento nutricional para se recuperar o estado imunológico, a barreira intestinal e mudar os hábitos que favoreceram a hipersensibilidade. Já que só retirar o alimento alergênico sem esta adequação pode vir a manifestar alergias tardias à novos alimentos, principalmente se esses passarem a ser ingeridos com alta intensidade e frequência.

O tempo necessário para esta dessensibilização e reintrodução alimentar é muito relativo e individual, pode durar de alguns meses à alguns anos. Depois deste período, o mesmo alimento que causava reações anteriormente não causará mais as mesmas reações (o que também pode depender de sua dose de consumo) e os testes de IgG pode dar negativos.

Fonte: www.lactesenao.com – por Pri Riciardi – CRN89694