Bem, para começar este artigo vou lhes contar o mais valioso conselho que me deram no meu primeiro contato com pessoas que tinham a mesma restrição alimentar que eu.
Foi na Caminhada do Dia do Celíaco (em maio) no Parque Ibirapuera em SP. Estavam participando muitas pessoas com a mesma restrição que eu e meu filho, e eu lá, marinheira de primeira viagem, apavorada, sem chão, buscando desesperadamente acreditar que tudo ia ficar bem e sugando toda e qualquer dica prática que pudessem me dar para manter o dia a dia o mais normal possível.
Entre tantos exemplos maravilhosos de mães guerreiras, entre tantas pessoas que lutavam nessa batalha fazia tempo e estavam ótimas, entre tantas receitas e dicas, entre tanto conhecimento acumulado – grandes fontes de inspiração e admiração , entre tanta gente positiva e sem se lamentar, minha aflição se acalmou, percebi que não seria fácil, o caminho era longo, mas a nossa saúde estava nas nossas mãos, sem remédios, cirurgias ou hospitais.
Após o diagnóstico eu me senti muito triste pelo que meu filho teria que enfrentar, pelos alimentos que não poderia mais comer e por ele ser tão pequeno na época (4 anos). Mas o melhor conselho que me deram foi:
“Aceite sua condição e a do seu filho e parta em busca da saúde para ambos. Não se vitimize, trate a situação com normalidade e quanto melhor você fizer isso, melhor seu filho reagirá à nova condição”
Lembrei do livro sobre educação infantil que havia lido e achado maravilhoso “A AutoEstima de Seu Filho” de Dorothy Corkille Briggs, que fala da teoria dos espelhos. Pais e mães são espelhos para seus filhos, e a autoestima de uma criança depende muita dela receber reflexos positivos vindos desses espelhos.
E parti então para a luta, um dia por vez, a cada nova situação eu ia descobrindo uma forma melhor de lidar com a situação.
Acredito que é fundamental que as crianças pequenas com restrições alimentares entendam desde cedo os alimentos que podem ou não comer, obviamente, usando exemplos claros do dia a dia delas. Que assimilem a sua restrição e que percebam que no mundo, muitas outras crianças tem outras dificuldades também, e isso é normal, cada um com a sua realidade, nem melhor e nem pior, cada um com seu desafio a superar.
A criança que precisa lidar com restrição alimentar torna-se mais consciente da sua saúde e da importância da boa alimentação e leva isso para sua vida adulta. Torna-se também mais forte para enfrentar adversidades. E por fim, torna-se mais solidária às dificuldades de outros, sentimento tão importante nos dias de hoje.
Logo após o diagnóstico, achei muito importante um trabalho lúdico que fizemos com meu filho, orientados por uma psicóloga, para que ele entendesse que é natural que a alimentação seja diferente para algumas pessoas pois isso acontece também com os animais. Usávamos bichinhos de pelúcia com ziper na barriga e alimentos de brinquedo e íamos alimentando os animaizinhos com o que cada um podia comer e se por acaso um deles comia alguma coisa que não podia, sua barriga ficava inchada…e ele não se sentia bem. Essa brincadeira levou alguns dias até chegar no boneco que representava um humano e repetir as conclusões. A proposta era simples e ele assimilou muito bem e com naturalidade.
O passo seguinte foi conscientizar a escola. O lanche era preparado lá e não havia nenhum outro aluno na mesma condição. O bonito foi que a escola foi muito receptiva e os professores e funcionários compareceram em peso para a palestra que eu havia preparado com a ajuda das especialistas que conheci na caminhada da Acelbra. Levei vários itens sem glúten, feitos por mim, para mostrar que alimentação sem glúten podia ser simples e gostosa. Não é um bicho de sete cabeças. Felizmente, em parceria trabalhamos a questão da contaminação e ele estudou lá por mais seis anos sem nenhum problema alimentar. Forneci receitas, alguns equipamentos para uso exclusivo de itens sem glúten, mandava vários itens de casa, enfim, dei sorte, mas é possível. Nesses dez anos de estrada, sempre encontrei mais gente disposta a ajudar do que o contrário.
A partir desse ponto várias situações se sucederam que vou listar abaixo mas o mais importante sempre foi garantir que ele fosse responsável com sua alimentação, que não aceitasse nada sem perguntar para um adulto se podia comer, que não comesse nada escondido, que soubesse falar o que não podia comer. Também foi importante não tratar como um problema e não isolá-lo do mundo e privá-lo de experiências. Educar é trabalhoso em todos os sentidos e esse é só um aspecto a mais que precisa ser cuidado quando se tem uma criança com restrição alimentar, para que ela viva na sua plenitude mas com segurança.
No início as coisas parecerão muito complicadas pois você ainda estará aprendendo enquanto estará vivendo muitas situações novas mas, com o passar do tempo, tanto você quanto seu filho se acostumarão e acharão o ponto de equilíbrio, as situações passam a se repetir e você já saberá como lidar com elas e já conseguirá se antecipar aos riscos e problemas. O importante é não baixar a guarda e estar atento sempre. Somos os principais responsáveis por nossa saúde.
Fonte: http://www.escolhacomsaude.com.br/crianca-adolescente-restricao-alimentar/
por POR LUCIATRIGO, site: www.escolhacomsaude.com.br