Restrições alimentares. Explicar às crianças e não dramatizar.

Restrições alimentares. Explicar às crianças e não dramatizar.

Para ajudar um jovem com excesso de peso a emagrecer a família deve adotar o mesmo tipo de comida. Se há uma intolerância alimentar, só a criança beneficia das restrições.

As restrições alimentares como alergias e intolerâncias, bem como excesso de peso, obrigam as famílias a ajustar os seus hábitos. Deve o resto da família seguir padrões mais restritivos porque um dos membros não pode comer determinado alimento? Não. Dizem os especialistas em nutrição que cada família deve fazer o que for mais cómodo para si, mas não há nenhuma recomendação para que siga a mesma dieta. No entanto, há algumas dicas para que a criança não se sinta excluída. Já se o problema for excesso de peso, é benéfico que todos adotem o mesmo regime. Em qualquer caso, dizem os psicólogos, é importante não dramatizar, porque as crianças têm capacidade de se adaptar.

m que o pai é uma pessoa ativa, a mãe é mais sedentária, há um filho adolescente e um outro mais novo com excesso de peso. Cada um tem necessidades diferentes. “O primeiro passo é criar uma base, que pode ser comum a todos: verduras, uma fonte de proteínas, hidratos de carbono. As quantidades serão depois ajustadas às necessidades de cada um. Não é preciso fazer refeições diferentes”, diz Rodrigo Abreu, responsável pela consulta de nutrição infantil na CUF Belém. Se um dos filhos tiver de controlar o peso, a família deve ser solidária. “Deixar de beber sumo à refeição, por exemplo, ou de comer um chocolate por dia. Se o empenho for de toda a família, todos ganham”, frisa. Se a criança for a única a mudar a alimentação em função do peso, “pode sentir que é um castigo ou uma penalização”.

Nuno Borges, da direção da Associação Portuguesa de Nutricionistas, também defende que, nestes casos, “o que é bom para a criança mais frágil não fará mal aos outros, até os torna mais saudáveis”. “Há vantagens que todos sigam a mesma alimentação”, reforça. Já a psicóloga Inês Afonso Marques, responsável pela área infantojuvenil na Oficina de Psicologia, considera que o facto de a família seguir um padrão mais saudável ajuda a motivar a criança. “A família funciona como modelo. Para a criança, será difícil aderir a um padrão mais restritivo, se o resto das pessoas não o fizer. Vai sentir-se injustiçada”, explica.

Quando Bárbara fez 6 anos, Cristina Santos descobriu que a filha era doente celíaca. “No início, foi complicado.” A lista do que não podia comer era assustadora. O preço dos alimentos também. E existia, ainda, o risco de contaminação. Retirar o glúten da alimentação do resto da família – tem dois irmãos – nunca foi uma opção. Passaram sete anos. Apenas Bárbara come alimentos sem glúten, mas raramente as suas refeições são diferentes. “Tentamos que a comida seja o mais semelhante possível à nossa.” Por exemplo, se os dois irmãos comem douradinhos, Bárbara também, mas os seus são diferentes. “Se for açorda, fazemos uma base em conjunto e depois separamos a parte dela.” E é assim com quase tudo.

Imagine uma família e

Fazer uma base comum

Rodrigo Abreu diz que, se uma criança tiver alergia à proteína de leite de vaca, por exemplo, não deve comer nada que a contenha, “mas não significa que o resto da família tenha de seguir” essa restrição. “Tem é de existir cuidados com as contaminações.” É o caso de Beatriz, de 8 anos, alérgica às proteínas do leite de vaca desde bebé. Há cerca de um ano, os médicos começaram a fazer uma introdução ao leite, pelo que agora já não há o perigo de encontrar vestígios na comida. “Até chegar a esta fase, tinha de ver sempre se os alimentos tinham vestígios de leite”, explica a mãe, Tânia. Em casa, os pais tentam sempre que as refeições sejam iguais para todos. Se for empadão, há uma parte que é feita com leite de vaca, outra com leite de soja. “Se é um prato que leva queijo ou natas, fazemos à parte para ela. Mas a ideia é tentar sempre que haja uma base comum.”

No caso das intolerâncias, Nuno Borges concorda que “se a criança não pode comer um determinado alimento, os outros não têm de o eliminar. No entanto, para algumas famílias pode ser mais prático fazer só aquele prato. Não acho é que isso seja universal para todos”. Dá como exemplo a fenilcetonúria, uma doença em que é necessário eliminar as proteínas da alimentação. “Quando as crianças são pequenas, a restrição é absoluta. Estes doentes fazem uma dieta completamente isolada dos pais e irmãos. Não faz sentido nenhum que os outros tenham de comer as mesmas coisas.”

O risco de a criança se sentir discriminada dependerá da abordagem que é feita pelos adultos. “Se não fizerem drama, o filho também não vai fazer. Pode sentir-se diferente, mas não vai sentir-se inferior”, destaca a psicóloga Inês Afonso Marques. As crianças “adaptam-se, ajustam-se” e é importante que aquela característica seja tornada especial. Como? “A criança pode sentir-se especial porque o leite dela é diferente, os cereais são diferentes, sente-se integrada nas compras.”

Ambas as mães contactadas pelo DN dizem que mais difícil do que gerir as alergias e intolerâncias das crianças dentro de casa, é quando não estão com os pais. Cristina Santos recorda que, no primeiro ciclo, levava massa, salsichas e outros alimentos para a escola da filha. “Víamos a lista das refeições e tentávamos adequar o mais possível à dos colegas, para a Bárbara não se sentir diferente”, explica. Nas festas de aniversário, geralmente levavam de casa aquilo que as filhas podiam comer. “A Beatriz agora já sabe o que pode comer, mas, quando era mais nova, normalmente levava lancheira”, conta Tânia. Nos restaurantes, o problema é, na maior parte das vezes, o risco de contaminação.

Fonte: Diário de Notícias por Joana Capucho